22 de dezembro de 2007

A herança das realidades

Sabe, acredito que todos nós nascemos com a herança de nossos pais, material e comportamental, nos ajudando a continuar a missão de sobreviver, neles encontramos tudo o que seremos se não fizer nada, para os adolescentes e traumáticos isso é difícil de reconhecer, não tive muitos bens como herança. O caráter formado por essas pessoas que me influenciaram ficou muito forte, o levantar depois de cair também veio deles.
A indignação de querer ser sempre melhor nasceu da humilhação dos dias difíceis, afinal somos formados por eles e não pelos dias bons, a vida é formada por sucessos e fracassos, mas somos formados pelos fracassos, eles nos protege de fracassar nos sucessos também.
A realidade é o remédio mais importante que os pais deveriam dar aos seus filhos doentes, mas poupamos nossos entes da realidade, principalmente da nossa realidade, poupando-os do nosso mau humor, nossos bocejos, gripes e cáries.
Somos realmente atores de uma grande tragédia em que você não! Eu sou a vitima!
Nascemos sendo o centro do mundo e acabamos nossa vida sendo o crosta do mundo, debaixo de 7 palmos todos somos bons homens, mas durante a realidade que recusamos a ver a coisa era diferente.
Acreditamos que um dia o papai noel virá nos visitar e trazer suas reninhas lindas para nos dar um presente e a realidade crescente de nossos dias é alterada pela mídia e na verdade por nós mesmos.
A herança que nos deixaram é o que mais repudiaremos o resto da vida, afinal “O que é desgraça do filho é orgulho do neto”, mas será a única realidade que teremos que conviver e se quisermos alterar.

21 de dezembro de 2007

Paranapiacaba

Um belo dia, eu, Rafael estava em meu trabalho num sábado com minha equipe de trabalho conversando, já que num sábado não é muito legal trabalhar, ele é turista, quer dizer, formado em turismo e comentava sobre sua formatura e a viagem a PARANAPIACABA, que envolvia uma pedra que via o mar e um bar com frango assado com pão que me agradou.

Neste sábado fui à casa de minha estimada, linda namorada, onde muito curioso comentei o assunto, minha linda e amada sogra disse: - è uma cidade linda que também quero conhecer, vocês bem que podiam passear para esses lugares bonitos assim, né.

Eu, mais que convencido decidi: - Vamos a PARANAPIACABA.

O turista disse que era a ultima estação de trem do lado leste, então chamei, ou melhor, convenci meus estimados amigos Thiago, Fred, Lucas a me acompanharem nessa aventura. Comentei que era uma cidade turística, que provavelmente tinha um solão, já que dava pra ver o mar, não íamos gastar mais que uma passagem de trem ida e volta, então Fred, o corajoso vestiu se shortes vermelho e sua regata vermelha, enquanto o Thiago brigava com a Carla, pois ela não queria ir. Eu e o Thiago fomos de calça, mas de camiseta e a Gabi a medrosa levou blusa, entramos no trem em Pirituba as 13h00 com 15 reais no bolso e uma mochila com pães e uma dolly.

O Sr. Lucas havia tido uma decepção amorosa e que com muito companheirismo consolávamos cantando "Eu me apaixonei pela pessoa errada, ninguém sabe o quanto eu estou sofrendo...", um pagodinho para consolá-lo. Bem que ele queria descer na luz, pois queria procurá-la ou se livrar de nós. Não sei.

Há duas estações de Rio grande da Serra o trem espanhol com ar condicionado o já estava só a gente e um maconheiro no trem, o frio chegou lá perto também, a neblina baixou, o mato envolvendo a linha de trem, a neblina envolvendo o mato, o trem cortando a serra.

Tá tá, com o barulho do trem em um compasso lento, tá tá, pela janela só via o mato sumindo na neblina as luzes do trem falhando como num filme de terror, sentei no banco a frente do pessoal olhei para fora e falei:- Em uma foto para um filme de terror só faltava um ponto preto lá fora no meio da neblina meio suspeito.

Tá tá, o maquinista anuncia "Estação Terminal Rio Grande da Serra", descemos num tipo vilarejo com ruas de paralelepípedos, uma farmácia do lado de uma padaria, do lado de um mini-mercado, só a farmácia aberta e o tontão aqui vai e pergunta como chegar a PARANAPIACABA. Mal sabia o que nos esperava. O atendente informa que na próxima esquina passa um ônibus intermunicipal direto para nosso destino, uma rua feia com uma quitanda fechada e com caixas de frutas velhas em volta, um chuvisco com um ventinho frio.

Passa o Ônibus depois que pensássemos em desistir e somente com um argumento de que havíamos chegado muito longe não deveríamos ir embora. Um Ônibus vazio bem conservado, com um motorista parecendo o Magaiwer, um cobrado com cara de sono, informa: - "R$ 2,50 ida ou R$ 4,50 ida e volta", contamos as moedinhas e compramos ida e volta, sentamos no fundo, no outro ponto entra duas meninas fubangonas que descem 15 minutos depois.

O ônibus entra numa estrada cortando a neblina que mal enxergávamos as calçadas, o ônibus acelera e deve ter chegado a 80 km/h na neblina, o ônibus balançando muito e a gente lá esperando que chegue rápido. O remexer do ônibus alucinante se transformando em carro de boi, o cobrado dormindo parecendo um bobo inflável balançando, nós riamos olhando e rindo de nossa situação, já que um ônibus a 80 km/h no meio da neblina com uns pulos que batíamos a bacia no encosto do banco que por sinal muito duro.

O Cobrador acorda depois de um salto que quase encosto no teto, olha mal humorado para nós que disfarçamos as piadas dele, encara com uma cara de "Existe algo errado", nervosos levanta e vem até a porta traseira que estava a minha frente, parecia que estava vindo falar comigo, mas somente olha o espelho de seu uso para ver os passageiros descendo, ajusta-o, se olha admirando sua formosa cara de mané e volta a dormir em seu banquinho confortável naquele gigante movimento de ninar dragão.Nos entre olhamos com um riso de alivio e continuamos a conversar em meio aquele bate carne, o cobrador voltando a seu estado normal de bobo inflável e a gente admirando algumas cachoeiras perdidas em neblina a menos de 1,5 metros do ônibus.

Mal enxergávamos as paredes de terra e rocha a 1 metro da janela, mas ai então o cobrador olha mais uma vez para nós, ai que eu fiquei cismado, ele levanta vem depressa se segurando pelos ferros do ônibus, para na minha frente ajusta novamente aquele espelho que por acaso, não havia nenhum passageiro além de nós, por isso queria saber por que toda aquela preocupação com o espelho se ele estava dormindo e nem com um ônibus cheio seria difícil ver a escada.

O mais engraçado foi ele pela terceira vez levantar novamente e se dirigir aquele espelho com aquela cara de loco maníaco, olha para o espelho e novamente o arruma, nessa hora o Lucas já estava chorando, o Fred estava impaciente e eu apavorado.

Levantei do lugar, me pus de pé com uma certa dificuldade devido o chacoalhar daquele ônibus fantasma, fui até a catraca para ver o que o motorista estava se guiando, por que a rua não era, num dava para ver um palmo do nariz dele, o magayver estranho continuava socando o pé de tijolo naquele ônibus antigo no meio de uma neblina e com o farol desligado.

o ônibus diminui a velocidade, faz uma curva fechada, o motorista grita: - Chegamos. Eu olho para fora, chuviscando, um mero detalhe era o vento e um tempo de Campos do Jordão, eu pergunto qual o ônibus de volta, o motorista fala: - às 17h30 e é o último.

Bom, Descemos com cara de "puta que o pariu" e olhamos em volta, era um largo sem saida onde a entrada era a estrada e era o único lugar para passar o carro. Avistei um telefone público, quem diria, fomos correndo para ligar, estranho que eu não sabia para quem ligar.

O telefone? Ele estava sem linha como todo filme de terror, acima dele havia uma escadaria em paralelepípedo bem larga que dava no pé de uma igreja católica, corremos dando risada de nossa situação imaginando que dentro da igreja estaria mais quente do que aquele frio horrível, mas por um mero acaso, que não conhecemos os motivos, a igreja estava fechada, começamos a rir, morrendo de frio. Olhamos para o lado da igreja que era acompanhado por um muro, havia uma passagem e tivemos a idéia de verificar uma possível porta ao lado do centro pontífice, já que Ele falava: "Vinde a mim todos que estão cansados e sobrecarregados", bem que estávamos só com frio, mas acho um bom começo.

A passagem se perdia na neblina, bem estreita com as famosas e traiçoeiras pedras que desenhava o caminho, não tinha portas pelo lado e ninguém pensou em acompanhar a igreja até o fundo. Havia um portão no terreno do lado da igreja que era escondido pelo muro que escurecia aquela passagem, fomos ao portão, olhamos e havia várias covas, era um cemitério.

Um cemitério que as covas se perdiam na neblina, como tudo nessa cidade, abrir a porteira de ferro, que rangeu, ai eu falei: - “Isso já é demais cara, o que a gente veio fazer aqui?". Uma sirene soa, saímos correndo para frente da igreja, ninguém sabe de onde veio, se era algum alarme. Na porta da igreja encontramos com uma neblina um pouco mais rala, um vestígio de civilização.

Era um Opala preto tipo Zé do caixão, demos risada e vimos atrás do opala uma rua para descer, uma ladeira bem íngreme que ia dar sabe Deus onde, rodeamos o Opala e encontramos diversos bares na ladeira com um povo mal encarado, bêbado e com um cheiro de urina muito forte, mas descemos assim mesmo.

Bem escorregadia a ladeira virava logo abaixo, acabando os muros do lado esquerdo dava para ver uma estação de Trem, acha que a famosa estação de Paranapiacaba, uma linha de trem, com vários fantasmas que resolveram descansar por vários anos naqueles trilhos, não sei se aqueles trens estavam em uso, mas era bem estranho, viramos a ladeira e continuamos descendo, ai vimos um pontilhão que passava sobre ferrovia.

Como de costume um bar em frente ao pontilhão, mas vazio. Fomos em direção ao pontilhão, quando pisei na primeira taboa, fez: -Iiieeeeeeek. Reclamamos, relutamos, mas fomos, não dava para ver o outro lado do pontilhão por motivos já conhecidos, só víamos o teto dos fantasmas abandonados na ferrovia. Andando bem devagar parecia que estávamos num barco, pois no meio do pontilhão estávamos ilhados dos contatos com terra.

Uma mulher saiu da neblina a nossa frente, logo atrás um homem, era um grupo voltando, com capa de chuva naquele chuvisco gelado, parecia à lenda do fantasma sem cabeça, o bom que eles tinha cabeça e não cavalgavam, chegamos ao final do pontilhão, dava apenas para ver um barracão com uma casa bem antiga ao fundo, descendo vimos que tinha bares, pelo menos 5 um do lado do outro, com bastante gente, o barracão foi nossa chance de comermos nosso pão com mortadela e beber Dolly®.

Havia um cachorro de 3 patas nas lojinhas que ficavam no centro do barracão que tinha vários bancos e mesas, o estranho era que todas tinham goteiras, mas o chão tinha várias marcas de seco, o cachorro queria pegar nossa mortadela e não tínhamos outra opção se não o chão. Cachorro chato corria, mas sempre voltava.

Era um dia muito importante para o Thiago e o Fred, Corinthians e Palmeiras, um clássico, como adoro futebol, nem lembrava, comemos com provocações com os dois timinhos. Não lembro quanto foi o clássico, mas rendeu um pouco mais de esforço para o "passeio", fomos dar uma volta na cidade, tudo estava fechado ou fechando afinal já era 16h15 mais ou menos, aqueles blocos escorregadios, toda hora quase caíamos, todos zombando do lugar que tínhamos chegado, no fim da cidade estava, parque Estadual de Paranapiacaba, achamos estranho estar fechado, mas beleza, era a avenida principal da cidade, tinha pelo menos uns 300 metros, no caminho tinha, hotéis, banheiros públicos e placas com mapas da cidade, não sei para que, não informava nada, algo nos chamou a atenção.

Um riacho passava as beiras da Famosa Avenida, seguia bem rente aos blocos com um pequeno jardim que o separava, algumas arvores no meio, uma casa fora construída em cima do riacho, mas o mais curioso foi que construíram uma "Garagem" também em cima do riacho, mas era feita apenas de duas vigas, que pairavam por cima do riacho, quem em cima estava um fusca verde, bem conservado, o estranho era que mau cabia as rodas do fusca nas vigas, então como o dona saia se estava a quase 1,5 metros do chão e do riacho, engraçado, demos muita risada, imaginado os habitantes da cidade que não devem beber muito, dando ré, subindo de olhos fechados naquelas vigas.

Mais bares, o barracão, a entrada do pontilhão, a neblina tinha diminuído, dava para ver o outro lado do pontilhão já, tomamos rumo ao regresso. Poucas pessoas ainda estavam na cidade, passamos o pontilhão com mais alivio e com brincadeiras, um homem regueiro, quis vender um cordão de todo o jeito para o Fred, ele deu bola o cara tava quase botando a mão no bolso do Fred para pegar o dinheiro, os últimos 5 reais da excursão, ele aceitou, o cara imediatamente gritou para o dono do bar que era em frente ao pontilhão e disse: - “só mais uma branquinha", bem entendemos, demos muita risada da cara do Fred e continuamos.

Chegamos ao largo, a neblina estava voltando, vimos sair da neblina um cara totalmente bêbado balançando pronto para cair, com a blusa escrito, MANOBRISTA, bem, esperamos que ele não dirija ônibus, esperamos uns 30 minutos ainda aonde tínhamos decido, dando risada pela história que havíamos passado.

O Ônibus chegou do meio da neblina e parou longe da gente, tinha um pessoal parado lá na frente e corremos para não perder o ultimo ônibus, quase que aconteceu, o ônibus cheio de drogados, maconhados e bêbados, uma babilônica condução para o nosso paraíso, uma cama e café bem quente.

Rafael Moreira